LatAm Tech Weekly
#1 - Tarifas x Tech, números de VC do 1T 2025, deals da semana... e muito mais!
Escrevo semanalmente sobre o que está acontecendo no ecossistema de tecnologia da América Latina. Durante o dia, trabalho no Itaú BBA, assessorando empresas de tecnologia de médio porte em suas próximas transações estratégicas. À noite, estou sempre lendo e aprendendo mais sobre tecnologia em geral (no momento, com foco especial em IA). Nos fins de semana, é hora de escrever a LatAm Tech Weekly.
🚨 NOVIDADE: Depois de muitos pedidos, decidi lançar hoje uma versão em português — e mais leve — da LatAm Tech Weekly! Ela é pensada para quem está começando a acompanhar o mundo tech ou simplesmente prefere se atualizar em português. Só um lembrete: a versão original continua firme e forte — publicada todo domingo e disponível no site da Nasdaq.
Essa nova edição em português será traduzida por IA e adaptada em um formato mais simples. Importante: se você já assina a newsletter original, não será automaticamente inscrito nessa nova versão.
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E como sempre — é 100% gratuita. Nunca cobrei pela newsletter, e isso não vai mudar. O objetivo é simples: compartilhar conhecimento e destacar tudo o que está acontecendo no ecossistema tech da América Latina!
Boa noite! Pronto para a semana que chega?
Não tem como fugir — as tarifas deixaram de ser apenas um tema macroeconômico distante. Agora, estão afetando todos os setores — inclusive o ecossistema de tecnologia na América Latina. Vamos entender o que aconteceu?
Choque Tarifário: o "Dia da Libertação" e o fim da globalização sem atrito
4 de abril de 2025 — o chamado “Dia da Libertação” — prometia marcar o início de uma nova era de crescimento, com investimentos e avanços em IA (inteligência artificial). Mas acabou sendo um dia de turbulência econômica…
O que deveria ser uma celebração do “renascimento industrial” americano assustou os mercados e as startups. Os contratos futuros do S&P 500 (índice das 500 maiores empresas dos EUA) caíram 6% com o anúncio das novas tarifas. As manchetes falavam em “10% para todos os lados”, mas a realidade foi ainda mais complexa — e com consequências maiores.
O que foi anunciado?
Tarifa mínima de 10% sobre todas as importações para os EUA, independente da origem.
Tarifas recíprocas (de até 54%) para países como China, Taiwan (32%) e Coreia do Sul (25%).
(Tarifa recíproca = quando os EUA impõem tarifas iguais às que esses países aplicam sobre produtos americanos)Tarifas de 25% sobre automóveis vindos do México, Canadá e Alemanha.
Exceções temporárias para setores como farmacêutico e semicondutores (chips). Mas a isenção para chips acaba ainda em 2025 — e tarifas de até 50% devem entrar em vigor.
Incentivos de investimento: empresas como Apple, Nvidia, OpenAI e SoftBank anunciaram US$ 6 trilhões em novos aportes dentro dos EUA para localizarem suas cadeias produtivas (supply chains).
Em 2024, os EUA arrecadaram US$ 77 bilhões com tarifas. Com as novas medidas, esse número pode ultrapassar os US$ 600 bilhões por ano — um choque nos fluxos globais de comércio.
Efeitos Globais: o mundo volta a se fragmentar
Durante décadas, a globalização foi a regra. Mas agora, são os ministros de comércio — e não os investidores de risco (VCs) — que estão moldando os rumos do setor tech:
China, Coreia e Japão estão formando um bloco tecnológico para reagir às tarifas dos EUA.
Europa se aproxima da China para proteger suas exportações.
Já há efeito prático: quatro grandes negócios internacionais foram cancelados (três na Europa e um na Ásia).
E o mais complicado: não sabemos se essas tarifas vieram para ficar. E quando há incerteza, o apetite por negócios diminui.
Tarifas e tecnologia: um choque macro que virou micro
O impacto já chegou. Startups estão sendo forçadas a tomar decisões difíceis — em alguns casos, decisões que afetam sua sobrevivência.
IA, chips e deep tech: no centro do furacão
Startups de IA (inteligência artificial) dependem de hardware (como GPUs — chips usados em IA) e sofrem com restrições de exportação.
Preços das GPUs subindo.
Chips antigos da Ásia não são mais baratos como antes.
Por outro lado, governos estão oferecendo incentivos: CHIPS Act (EUA), plano de US$ 12,5 bi da Índia e o Chips Act da União Europeia.
Startups de hardware: sob pressão
Os custos de produção (BOM — bill of materials) aumentaram entre 10% e 34% da noite para o dia.
Fundadores têm duas opções difíceis: absorver o custo (diminuindo a margem) ou repassar para o cliente (arriscando perder vendas).
Mesmo startups com cadeias de fornecimento diversificadas estão enfrentando problemas — redirecionando produção para Índia, México ou Sudeste Asiático, muitas vezes com altos custos.
Startups de software: salvas… por enquanto
Softwares e produtos digitais ainda não são taxados. Mas os clientes são.
Diretores de TI (CIOs) estão cortando orçamentos. Renovações e novos contratos estão mais difíceis.
Múltiplos de crescimento estão caindo. O múltiplo de receita futura para empresas de software (NTM) caiu para 4,8x — perto dos níveis mais baixos dos últimos 10 anos.
Não cabe a mim julgar se isso é bom ou ruim. Mas está claro: isso não é só protecionismo. É uma reestruturação do comércio global. A antiga ideia de “ser global desde o primeiro dia” está perdendo força. Em 2025, “focar na região” pode virar o novo normal.
Sobre o mercado de IPOs
A janela de IPOs (abertura de capital na bolsa), que parecia começar a reabrir, se fechou de novo — poucos dias depois do IPO morno da empresa de IA CoreWeave (avaliada em US$ 23 bilhões na Nasdaq).
Investidores institucionais estão pisando no freio, tentando entender os impactos das tarifas sobre seus portfólios. E com as cadeias globais em reestruturação, essa avaliação ficou ainda mais difícil.
Startups que estavam prestes a abrir capital agora preferem esperar. Lançar uma oferta pública em um ambiente incerto não vale o risco.
A pausa nos IPOs e nas aquisições pressiona todo o ecossistema de venture capital. Sem saídas (exits), os fundos enfrentam dificuldade para levantar novos recursos ou investir o capital já comprometido.
O problema não são apenas as tarifas. É a incerteza que elas trouxeram. Com inflação e juros mudando constantemente, fica difícil até definir o valor real das empresas. E enquanto essa névoa não se dissipa, o mercado de saídas deve continuar travado.
O que isso significa para a América Latina — e para o Brasil
Aqui é onde a coisa começa a ficar interessante:
Com o embate entre China e EUA, a América Latina volta ao radar como um parceiro comercial neutro e menos arriscado. Isso pode beneficiar a região.
O México se torna estratégico para produção perto dos EUA (nearshoring), especialmente nos setores automotivo e eletrônico.
O Brasil, com talentos crescentes em IA e potencial de industrialização local, pode atrair empresas que buscam realocar suas cadeias produtivas — mas precisa agir rápido.
Enquanto empresas americanas pausam negócios na Europa e Ásia, surge a pergunta: vão olhar para a América Latina?
Por enquanto, há interesse cauteloso. Representantes comerciais dos EUA já consideram ampliar o fornecimento regional. Mas a América Latina precisa provar que pode ser uma alternativa escalável e confiável — não apenas um plano B.
E para os fundadores brasileiros?
A mensagem é direta:
“Se você está construindo algo em hardware, IA ou até mesmo SaaS (software como serviço), a política comercial agora é parte da sua estratégia.”
Você não precisa estar na mira das tarifas para sentir o impacto: seus clientes estão mais cautelosos, seus custos estão subindo e o cenário global exige flexibilidade — até para empresas digitais.
Palavra final: fundadores, pensem como estrategistas
As tarifas deixaram de ser apenas manchetes de jornal. Hoje, elas são eventos que afetam o seu caixa, sua cap table (estrutura de sócios) e sua estratégia de mercado.
Os fundadores que vão prosperar neste ciclo não são os que têm o plano mais limpo — mas os que sabem ajustar o leme no meio da tempestade.
Para a América Latina, esta é uma chance de aparecer no radar global — não apenas como consumidor, mas como parceiro confiável de produção e inovação.
Vamos em frente — os números do venture capital no 1º trimestre de 2025 já saíram! Inacreditável como o ano já está voando, né? Vamos dar uma olhada nos dados.
Segundo o relatório Q1 2025 Global VC First Look, da PitchBook, a inteligência artificial (IA) continuou dominando o cenário de investimentos. O destaque foi a rodada bilionária da OpenAI, que levantou US$ 40 bilhões — só esse movimento fez com que os investimentos em IA representassem 57,9% de todo o capital investido em venture capital no mundo.
👉 Venture capital (ou VC) é o tipo de investimento que startups recebem de fundos especializados, geralmente para crescer rápido, contratar time e desenvolver produto.
Enquanto isso, setores fora de IA desaceleraram de forma acentuada: o número de rodadas nesses segmentos foi o mais baixo dos últimos 10 anos para um primeiro trimestre.
E a liquidez continua sendo um desafio. Para quem está começando:
👉 Liquidez significa basicamente transformar participação em dinheiro — ou seja, quando uma startup é vendida ou abre capital e os investidores conseguem realizar seus lucros.
No primeiro trimestre, o IPO (abertura de capital) da empresa de IA CoreWeave sozinho representou 26% de todo o valor gerado com saídas. Ainda há tempo para mais aberturas de capital em 2025, mas a crescente volatilidade dos mercados tem deixado o cenário mais incerto.
📉 Volatilidade = quando os preços do mercado (ações, moedas etc.) oscilam bastante em pouco tempo. Isso torna decisões mais arriscadas e dificulta planejamento de longo prazo.
Veja nos gráficos abaixo os dados específicos da América Latina. 👇
Atividade Global em VC
Tamanho das transações por região
Exits por Trimestre
O que movimentou o setor de tecnologia nesta semana
📰 Notícias Gerais
Itaú prepara solução para saque de Bitcoin e reforça suporte à autocustódia, respeitando padrões internacionais de compliance. 🇧🇷
Itaú estuda lançar sua própria stablecoin lastreada em real. Segundo o banco, stablecoins serão o grande tema cripto de 2025. 🇧🇷
Intrag e Kanastra firmam parceria para reentrada da Intrag (do Itaú) no mercado de FIDCs, unindo fiduciária tradicional à tecnologia da fintech. 🇧🇷
O Banco Central do Brasil abriu uma consulta pública para avaliar a necessidade de regular carteiras digitais oferecidas por big techs como Apple Pay e Google Pay. A preocupação é que essas empresas, ao oferecerem serviços de tokenização de cartões, possam ganhar poder excessivo no mercado, aumentando custos para emissores e usuários. 🇧🇷
A Starbem nomeou Renato Barbosa como Chief Product & Technology Officer. Ex-AWS e EBANX, ele liderará iniciativas em saúde preventiva usando IA para suporte emocional, nutricional e mental. 🇧🇷
O Mercado Pago ultrapassou Stone e PagBank em lucratividade no setor de adquirência, com lucro de R$ 1,93B em 2024. 🇧🇷
A nova funcionalidade da OpenAI permite que usuários se transformem em bonecos colecionáveis com o gerador de imagens do ChatGPT — gerando polêmica por imitar o estilo Ghibli. 🇺🇸
Trump's tarifas congelaram o mercado de IPOs nos EUA: Klarna e StubHub adiaram suas estreias na bolsa em meio à pior semana dos índices desde 2020. 🇺🇸
A Meta está construindo um data center de quase US$ 1 bilhão em Wisconsin para expandir sua infraestrutura de IA, apesar dos riscos trazidos por novas tarifas. 🇺🇸
O Bitcoin acumula queda semanal de 2,6% após o pacote tarifário dos EUA, com mais de US$ 573M em liquidações no mercado. 🇺🇸
A Colômbia planeja taxar plataformas como Airbnb e Booking em sua nova reforma tributária, mirando e-commerces estrangeiros. 🇨🇴
💸 Transações (Deals)
Autograph levantou US$ 2,6M em rodada pre-seed para desenvolver um "historiador de IA" que grava entrevistas semanais e cria legados digitais. 🇵🇾
Merama levantou US$ 215M (US$ 45M em equity e US$ 170M em dívida) para expandir marcas como Growth Supplements e Océane. 🇧🇷
Plug and Play lançou fundo de US$ 50M para investir em startups early-stage na América Latina, com meta de 10 investimentos/ano no Brasil. 🇧🇷
JumpStart levantou R$ 2,8M para oferecer crédito e consultoria financeira via IA para imigrantes. 🇧🇷
Plaid levantou US$ 575M em rodada com valuation menor (US$ 6,1B), com participação de Franklin Templeton, Fidelity e BlackRock. 🇺🇸
Plata Card se tornou o novo unicórnio da América Latina após rodada Série A de US$ 160M, alcançando valuation de US$ 1,5B. 🇲🇽