Escrevo semanalmente sobre o que está acontecendo no ecossistema de tecnologia da América Latina. Durante o dia, trabalho no Itaú BBA, assessorando empresas de tecnologia de médio porte em suas próximas transações estratégicas. À noite, estou sempre lendo e aprendendo mais sobre tecnologia em geral (no momento, com foco especial em IA). Nos fins de semana, é hora de escrever a LatAm Tech Weekly.
🚨 NOVIDADE: Depois de muitos pedidos, decidi lançar uma versão em português — e mais leve — da LatAm Tech Weekly! Ela é pensada para quem está começando a acompanhar o mundo tech ou simplesmente prefere se atualizar em português. Só um lembrete: a versão original continua firme e forte — publicada todo domingo e disponível no site da Nasdaq.
Essa nova edição em português será traduzida por IA e adaptada em um formato mais simples. Importante: se você já assina a newsletter original, não será automaticamente inscrito nessa nova versão.
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E como sempre — é 100% gratuita. Nunca cobrei pela newsletter, e isso não vai mudar. O objetivo é simples: compartilhar conhecimento e destacar tudo o que está acontecendo no ecossistema tech da América Latina!
Boa noite! Feliz Pascoa!
Estou escrevendo diretamente do coração da inovação global — o Vale do Silício. Acabei de chegar para o evento Brazil at Silicon Valley e estou super empolgada. Nos próximos dias, vou encontrar empreendedores incríveis, conversar com fundos de venture capital (ou "VCs", que são investidores em startups) e ver de perto como os brasileiros estão inovando, colaborando e construindo coisas incríveis aqui em Palo Alto.
E sabe o que foi a primeira coisa que fiz quando cheguei? Corrida, claro! Uma das coisas que mais gosto dessa região é o contraste — e o equilíbrio — entre tecnologia de ponta e natureza. Quando cruzei a rua em frente ao escritório do Google, olhei para o outro lado e vi um campo enorme cheio de cabras. Aquela cena ficou comigo. Durante a corrida, fiquei pensando como a tecnologia (deep tech) pode — e deve — coexistir com o meio ambiente de forma harmônica.
Na quarta-feira, sigo para Miami para o Latin American Technology Forum, organizado pela Riverwood — um dos eventos mais importantes do ecossistema. Ele é fechado para a imprensa, então só vou poder compartilhar o que for permitido. Mas sim — fica ligado! A edição da semana que vem será especial, com os destaques de tudo que vi e aprendi por aqui.
Aproveitando que estou por aqui, vale começar com uma pesquisa super interessante liderada pelo time do Venture Capital Initiative da Stanford University Graduate School of Business. Eles analisaram diferentes estratégias de fundos de venture capital na hora de investir em startups unicorns (startups que valem mais de US$1 bilhão).
O foco do estudo foi nos investimentos feitos antes da empresa virar unicorn — e eles separaram entre investimentos em estágio inicial (early-stage, ou seja, até Série A) e os casos em que o fundo liderou a rodada (lead investment, que inclui até quando divide a liderança com outro fundo).
Principais aprendizados:
A Sequoia Capital lidera com 134 investimentos em unicorns. Em 96 desses, liderou a rodada, e entrou cedo em 112. Ou seja, atua desde o começo e com força.
A SV Angel adota outra abordagem: investiu cedo em 111 unicorns, mas só liderou uma rodada. Isso mostra uma estratégia de entrar com cheques menores, mas bem no início.
A Y Combinator tem um papel muito forte no início da jornada das startups: fez 81 investimentos em estágio inicial, contra 42 rodadas que liderou.
A Lightspeed Venture Partners participou de 78 unicorns, entrando cedo em 71 deles.
A Insight Partners se destacou por liderar 65 dos seus 74 investimentos em unicorns, o que mostra uma preferência por comandar as rodadas.
No fim, o estudo mostra que não existe uma única fórmula para investir bem em startups unicorns. Cada fundo ajusta sua estratégia de acordo com sua tese e visão de mercado.
Mudando de assunto…
Semana passada compartilhei os dados de venture capital do primeiro trimestre de 2025. No mundo todo, 1 em cada 5 rodadas foi em startups de inteligência artificial (AI). Mas na América Latina, o destaque continua sendo o setor de fintechs, que recebeu quase 70% de todo o capital investido na região.
Por isso, achei útil dividir aqui o novo relatório da PitchBook — o Fintech & Payments Public Comp Sheet and Valuation Guide. Apesar de o estudo focar em empresas listadas nos EUA, ele serve como um ótimo ponto de comparação para ver como as fintechs da América Latina estão se posicionando.
Mesmo com um começo de ano promissor, a maioria das fintechs listadas na bolsa terminou o trimestre com retorno negativo no acumulado do ano. O motivo principal foi o medo de uma guerra comercial global, aumento da inflação e queda no consumo. Isso levou os investidores a repensarem os preços das ações, que estavam considerados altos no fim de 2024.
Para comparar: o S&P 500 caiu 5% e o Nasdaq 10% no trimestre. Entre os desempenhos em fintechs:
Proptechs (startups do setor imobiliário digital) tiveram retorno mediano de 17%, impulsionadas por Better, Latch e Redfin.
Fintechs de crescimento médio e empresas mais antigas caíram só 2%, puxadas por Fiserv e Jack Henry.
Neobanks, corretoras e cripto caíram 3%, com Robinhood liderando.
Fintechs de alto crescimento, com queda média de 22% (ex: Ibotta, Alkami Technology, Affirm e Upstart).
Pagamentos de alto crescimento, caíram 13%, lideradas por Flywire, Bill.com e Block.
Pagamentos mais tradicionais, com queda de 8% (REPAY, PaySafe e Shift4).
A queda nos preços também apareceu nos múltiplos de valuation: a relação entre o valor da empresa (EV) e receita dos últimos 12 meses (TTM) caiu na maioria dos segmentos. A exceção foi o setor de proptechs, onde os múltiplos ficaram estáveis em 2x, graças à recuperação da Redfin após aquisições.
As empresas com as maiores quedas nos múltiplos foram nomes como Block, AvidXchange, Coinbase e Bill.com.
Startups latino-americanas levantaram US$ 1,15 bilhão no 1º trimestre de 2025 em 147 rodadas — queda de 67% em relação ao trimestre anterior e de 37% na comparação anual. Apesar da desaceleração, o ticket mediano cresceu 13% na região, com o Brasil atingindo US$ 2,1 milhões. Fintechs lideraram, com 52% do volume de capital, seguidas pelos setores de energia e cleantech. 🇧🇷🇲🇽
Onfly levantou R$ 240 milhões em uma rodada Série B liderada pela Tidemark — o primeiro investimento do fundo na América Latina. Os recursos serão usados para tecnologia, expansão na região e eventuais aquisições. 🇧🇷
Diego Barreto, CEO do iFood, assumiu uma nova posição como responsável pela operação da Prosus na América Latina. A holding global, que controla a Movile (dona do iFood), tem investimentos em setores como delivery, fintech e e-commerce. O objetivo é acelerar o crescimento do ecossistema regional da Prosus, com foco especial em fintechs como o iFood Pago. 🇧🇷
Bancos brasileiros vão investir R$ 47,8 bilhões em tecnologia em 2025 — alta de 13% sobre 2024 e de 58% em cinco anos. As prioridades incluem inteligência artificial (IA), big data, analytics e migração para nuvem, com avanços acima de 60%. A adoção de GenAI já trouxe ganhos de eficiência para 80% dos bancos. Investimentos em Pix e Open Finance também vão crescer. 🇧🇷
Peso argentino caiu 17% após o Banco Central eliminar o regime de câmbio controlado e ampliar a banda cambial. Um novo acordo de US$ 20 bilhões com o FMI — com US$ 12 bilhões já liberados — busca estabilizar a moeda e recompor reservas. O mercado reagiu de forma positiva, apesar da fraqueza nas exportações agrícolas. 🇦🇷
Governo Milei eliminou os controles de capital da Argentina e lançou um novo sistema cambial com banda flutuante, apoiado por um pacote de US$ 44 bilhões do FMI, Banco Mundial, BID e China. A medida impulsionou os títulos argentinos em 5% e animou os mercados locais, apesar do risco inflacionário. 🇦🇷
Banco Central do Brasil divulgou suas prioridades para 2025: uso do Pix como garantia de crédito, expansão da portabilidade para PMEs, digitalização de notas promissórias e novas funcionalidades no Open Finance. Estão previstos também o Pix Parcelado e o aumento no crédito imobiliário. 🇧🇷
TikTok expandiu seu programa de empreendedorismo para Peru e Colômbia, oferecendo mentoria, treinamento em marketing digital e capital semente de até US$ 25 mil. As inscrições vão até 1º de julho. A iniciativa já teve sucesso no México. 🇵🇪🇨🇴
Plata Card se tornou o mais novo unicórnio da América Latina após levantar US$ 160 milhões em uma rodada Série A. 🇲🇽
Neotrust captou R$ 20 milhões com Pedro Chiamulera para apoiar sua transformação de fornecedora de dados em plataforma estratégica de inteligência de consumo com foco em IA. 🇧🇷
BBVA Spark e Finaktiva fecharam um acordo de COP$ 40 bilhões (~US$ 10 milhões) para ampliar o crédito a PMEs e inclusão financeira na Colômbia. 🇨🇴