LatAm Tech Weekly
#5 - Web Summit 2025, Relatorio de IA feito por Stanford, debate EUAxChina e muito mais!
Escrevo semanalmente sobre o que está acontecendo no ecossistema de tecnologia da América Latina. Durante o dia, trabalho no Itaú BBA, assessorando empresas de tecnologia de médio porte em suas próximas transações estratégicas. À noite, estou sempre lendo e aprendendo mais sobre tecnologia em geral (no momento, com foco especial em IA). Nos fins de semana, é hora de escrever a LatAm Tech Weekly.
🚨 NOVIDADE: Depois de muitos pedidos, decidi lançar uma versão em português — e mais leve — da LatAm Tech Weekly! Ela é pensada para quem está começando a acompanhar o mundo tech ou simplesmente prefere se atualizar em português. Só um lembrete: a versão original continua firme e forte — publicada todo domingo e disponível no site da Nasdaq.
Essa nova edição em português será traduzida por IA e adaptada em um formato mais simples. Importante: se você já assina a newsletter original, não será automaticamente inscrito nessa nova versão.
Recebeu e achou interessante? Então, indique para alguém que possa curtir também!
E como sempre — é 100% gratuita. Nunca cobrei pela newsletter, e isso não vai mudar. O objetivo é simples: compartilhar conhecimento e destacar tudo o que está acontecendo no ecossistema tech da América Latina!
Boa tarde!
Rio de Janeiro — com muito orgulho, minha cidade natal — foi novamente palco do Web Summit, reunindo mais de 30 mil pessoas entre fundadores, investidores, executivos e mentes curiosas. Pelo terceiro ano consecutivo, tive a oportunidade de participar desse evento incrível — moderando painéis, fazendo keynotes e me conectando com o ecossistema. E, mais uma vez, o Itaú Unibanco, onde trabalho, esteve presente como patrocinador.
Dito isso, este ano teve um sabor diferente. Me tirou da zona de conforto. Embora eu esteja acostumada a participar de painéis e compartilhar ideias com pessoas brilhantes, nunca havia feito um keynote sozinha no palco principal do Web Summit. Até o domingo anterior ao evento, eu ainda achava que participaria de mais um painel (no ano passado, fiz três!). Painéis exigem pouca preparação — você chega, traz sua visão e contribui para a conversa.
Foi então que, enquanto finalizava esta mesma newsletter após uma semana intensa, recebi uma mensagem da responsável pelo palco Growth Stage me perguntando se eu toparia fazer um keynote solo, sobre o cenário de venture capital na América Latina. Ela foi super atenciosa, dizendo que, se eu não me sentisse à vontade, manteríamos o plano original. Respirei fundo, pensei por uns 15 minutos — exausta — e disse sim.
Por quê? Justamente porque estava fora da minha zona de conforto. E é exatamente por isso que eu precisava aceitar.
Sim, eu estava cansada. E sim, tive que preparar uma apresentação de última hora. Mas dei conta — trabalhando até tarde no domingo e na segunda-feira para estar pronta às 11h da manhã de terça.
Acredito muito que fazer algo pela primeira vez — especialmente algo que te desafia — é uma das formas mais poderosas de evoluir. O painel seria familiar. O keynote? Era novo. Olhando para trás, fico orgulhosa do resultado. Poderia ter sido melhor? Claro — sou sempre minha crítica mais exigente. Mas gostei da sensação de nervosismo, da experiência de ocupar o palco sozinha.
E agora... estou pronta para o próximo.
Obrigada, Web Summit, pelo desafio. Espero estar de volta no ano que vem.
Antes de mergulharmos nas notícias — uma breve pausa para Warren Buffett, que anunciou oficialmente seu afastamento da liderança ativa durante a reunião anual da Berkshire neste sábado. Uma era que se encerra, silenciosamente.
O grande tema do Web Summit Rio? (Sem grandes surpresas.) Inteligência Artificial.
Não tem como fugir — a IA está aí, e veio para ficar. Por mais que eu tente puxar as conversas para outros assuntos, tudo inevitavelmente acaba voltando para ela.
Uma leitura que me chamou bastante a atenção esta semana foi o AI Index Report 2025, publicado pelo Institute for Human-Centered Artificial Intelligence (HAI), da Universidade de Stanford. O relatório oferece uma análise profunda, baseada em dados, sobre as principais tendências globais em inteligência artificial — investimentos, avanços tecnológicos e impactos em pesquisa, indústria, políticas públicas e sociedade. Esta é a oitava edição do estudo e, embora tenha mais de 400 páginas, admito que não li palavra por palavra. Como faço com quase tudo hoje em dia, comecei pedindo um resumo para o ChatGPT para entender se valia o mergulho completo (spoiler: valia muito).
Depois de ter uma boa visão geral, me aprofundei nas partes que mais me interessaram — e compartilho abaixo os principais destaques.
Se existe uma palavra que resume o cenário da inteligência artificial em 2024, é aceleração. Os investimentos dispararam, a adoção se tornou generalizada e a IA passou a ser uma prioridade estratégica para empresas e governos:
Investimentos em níveis recordes: O financiamento privado global em IA chegou a US$ 252,3 bilhões em 2024 — uma alta de 44,5% em relação a 2023, encerrando dois anos de estagnação. Isso representa um crescimento de 14 vezes na última década. Os Estados Unidos lideraram com US$ 109 bilhões investidos — quase 12 vezes mais do que a China.
A ascensão meteórica da IA generativa: O segmento de IA generativa captou US$ 33,9 bilhões e agora responde por mais de 20% dos investimentos totais em IA. Desde 2022, os aportes nesse setor cresceram 8,5 vezes, abrangendo modelos de linguagem, geração de vídeos e ferramentas de síntese de imagens. As empresas deixaram de apenas testar — estão, de fato, integrando GenAI a seus fluxos de trabalho.
Apostas governamentais cada vez maiores: Os governos estão entrando pesado no jogo. O Canadá anunciou um aporte de US$ 2,4 bilhões, a China investiu US$ 47,5 bilhões em infraestrutura de chips e a Arábia Saudita lançou o Project Transcendence — uma aposta de US$ 100 bilhões em IA.
Regulação acelerada: Os Estados Unidos mais que dobraram o número de leis relacionadas à IA (59 em 2024), enquanto 75 países no mundo aumentaram em mais de 20% sua atividade legislativa sobre o tema. A regulação deixou de ser exclusividade da União Europeia — agora é global.
Empresas mergulhadas de vez: De acordo com a McKinsey, 78% das empresas utilizaram IA em pelo menos uma função em 2024 (contra 55% em 2023). O uso de GenAI mais que dobrou: de 33% para 71%. Ainda assim, a maioria das companhias reporta ganhos modestos — abaixo de 10% — em produtividade ou redução de custos, o que sugere que ainda há muito espaço para aprofundar a aplicação prática da tecnologia.
IA no mundo real: A FDA aprovou 223 dispositivos médicos com IA em 2023 — contra apenas 6 em 2015. A Waymo realiza mais de 150 mil corridas autônomas por semana nos EUA, enquanto o Apollo Go, da Baidu, segue em expansão na China. A tecnologia já está transformando silenciosamente nosso dia a dia.
Percepções públicas divididas: O otimismo em relação à IA varia bastante. Na China, 83% da população está otimista; nos Estados Unidos, apenas 39%. Mesmo em regiões tradicionalmente céticas como Alemanha e França, a percepção melhorou em 2024 — um sinal de que as pessoas começam a enxergar valor real nos avanços da IA.
Queda de custos e ampliação do acesso: O custo de operação de modelos com performance similar ao GPT-3.5 caiu 280 vezes em dois anos. O hardware ficou 30% mais barato ao ano, enquanto a eficiência energética cresceu 40%. Resultado: a IA nunca esteve tão acessível — inclusive para pequenos players.
Avanços na ciência: A IA esteve diretamente envolvida em duas premiações Nobel (graças ao deep learning aplicado ao dobramento de proteínas) e no Prêmio Turing (por avanços em aprendizado por reforço). A ciência pode ser o próximo grande território onde a IA terá impacto transformador.
Mas o raciocínio ainda é um desafio: Apesar dos avanços, a IA ainda apresenta dificuldades com tarefas de raciocínio complexo. Modelos mostram progresso em benchmarks como GPQA e SWE-bench, mas continuam falhando em consistência lógica — especialmente em cenários críticos e de alto risco.
IA responsável ainda é um ponto frágil: Os incidentes relacionados ao uso de IA aumentaram, mas muitas empresas ainda não implementaram salvaguardas adequadas. Novas estruturas como HELM Safety e AIR-Bench estão surgindo, mas estamos apenas no começo da jornada rumo à transparência, justiça e confiabilidade na IA.
O debate EUA x China
Seguindo em frente…
Acredito que o diferencial desta newsletter está justamente aqui: eu leio, escuto e tento conectar os pontos. Se fosse apenas para resumir um relatório de 400 páginas, isso seria relativamente simples — especialmente com a ajuda da IA. Mas o verdadeiro valor (e o prazer) está em reunir múltiplas perspectivas e entender onde a narrativa é mais complexa do que aparenta.
Veja o AI Index Report 2025, por exemplo. Ele apresenta uma visão clara da liderança dos EUA: US$ 252 bilhões em investimentos globais em IA, sendo US$ 109 bilhões só dos americanos, além de uma vantagem expressiva na produção de modelos, com 40 lançamentos relevantes em 2024. No papel, parece uma liderança folgada.
Mas, após ouvir o episódio mais recente do podcast BG2Pod, fiquei com uma visão mais matizada. Bill Gurley comentou: “Estamos nos atrasando por causa de excesso de regulação e protecionismo, enquanto a China acelera. Não está claro se a abordagem atual dos EUA realmente nos ajuda a vencer.” Essa frase me marcou — especialmente em um momento em que controles de exportação e fricções regulatórias começam a limitar a velocidade com que a inovação avança. Gurley também fez uma provocação importante: o que significa, afinal, “vencer” em IA? Costumamos interpretar o mundo em termos de jogos finitos — como futebol ou xadrez — mas talvez a IA seja um jogo infinito.
Como escreve James P. Carse, em Finite and Infinite Games:
“Um jogo finito é jogado com o objetivo de vencer; um jogo infinito é jogado com o objetivo de continuar jogando.”
Isso muda completamente a lógica. Se a IA for, de fato, um jogo infinito — que se reinventa a cada rodada — talvez o objetivo não seja superar os outros, mas sustentar o progresso, a adaptabilidade e o impacto ao longo do tempo.
Outros líderes da indústria estão na mesma sintonia. Jensen Huang, CEO da NVIDIA, durante uma visita recente ao Capitólio, foi direto: “A China está logo atrás de nós.” Ele alertou que as restrições de exportação de chips de IA — embora bem-intencionadas — podem acabar prejudicando a competitividade americana e suas receitas, acelerando o esforço da China para construir alternativas autossuficientes. “Se perdermos o mercado chinês, não temos outro igual,” afirmou, destacando que a interdependência global ainda importa — mesmo em uma corrida tão estratégica quanto a da IA.
Essa mesma visão apareceu em uma coluna contundente de Thomas Friedman, no New York Times, intitulada “I Saw That Future, and It Wasn’t in America”. Após uma visita recente à China, Friedman descreveu um ecossistema tecnológico “mais rápido, mais ousado e mais mobilizado” do que qualquer coisa que tenha visto nos EUA. Sua conclusão: cidades como Shenzhen não estão esperando permissão — estão construindo. E fazem isso com um senso de urgência, direção e coordenação público-privada difícil de replicar em sistemas mais descentralizados.
Portanto, sim — os Estados Unidos seguem na frente em capital e volume de modelos. Mas liderança em IA não se resume a quem tem o maior orçamento ou o maior número de releases. Ela envolve velocidade, alinhamento e capacidade de execução. E, quando consideramos esses fatores — especialmente o ritmo com que a China está se movendo — talvez a liderança americana não seja tão sólida quanto o relatório sugere…
Itaú: Durante o Web Summit Rio, o CEO Milton Maluhy afirmou que o banco já modernizou 70% do seu core bancário e agora foca em escalar produtos baseados em IA. Ele também anunciou o lançamento de assistentes de investimento com IA, com o objetivo de democratizar o acesso a serviços antes exclusivos a clientes de alta renda. 🇧🇷
iFood: A foodtech adquiriu Opdv, Saipos e 3S Checkout para construir um ecossistema completo para restaurantes, indo além das entregas. A estratégia visa digitalizar e integrar operações como ponto de venda, pagamentos e logística. 🇧🇷
Riqra: A startup peruana superou US$ 1 bilhão em transações B2B e expandiu sua presença no Chile e na América Central. Fundada em 2017, conecta pequenas lojas a distribuidores por meio de uma plataforma tecnológica. 🇵🇪
Yape: O neobank peruano lançou uma nova ferramenta de distribuição de pagamentos para empresas enviarem dinheiro instantaneamente a mais de 17 milhões de usuários — sem a necessidade de conta bancária tradicional. 🇵🇪
Supra: A fintech colombiana recebeu um novo investimento estratégico do Citi para escalar sua plataforma de pagamentos internacionais. O objetivo é superar US$ 1 bilhão em volume transacionado até 2025. 🇨🇴
Plug and Play: A gigante da inovação se uniu à cidade de Londrina para criar um polo de govtechs e transformação digital. O plano inclui um centro físico de inovação e um fundo de US$ 50 milhões para startups da América Latina. 🇧🇷
Kiwi: A healthtech peruana levantou US$ 10 milhões para transformar o financiamento de saúde na América Latina. A empresa começa pelo Peru e se prepara para entrar no México em breve. 🇵🇪
Speedbird Aero: A startup brasileira de drones levantou €3,5 milhões da Lince Capital (Portugal) para escalar suas operações comerciais e entrar nos mercados europeu e norte-americano. 🇧🇷
Bitso: A cripto mexicana anunciou o encerramento do Bitso Card no México a partir de 26 de maio, focando agora em produtos financeiros de longo prazo como investimentos e ferramentas de gestão. 🇲🇽
Meta: A empresa lançou o Meta AI, um app independente com IA ativada por voz, como parte de sua estratégia para competir com o ChatGPT. O lançamento antecipa o primeiro evento LlamaCon, focado em IA. 🇺🇸
OpenAI: A empresa lançou um novo recurso de compras no ChatGPT, permitindo que os usuários recebam recomendações personalizadas de produtos diretamente na interface do chatbot. Essa funcionalidade, que rivaliza com o Google Shopping, está acessível a todos os usuários do aplicativo, incluindo aqueles sem contas. Embora o ChatGPT não processe transações diretamente, os usuários podem explorar sugestões de produtos com base em suas preferências e avaliações de fontes como Reddit e sites editoriais.